as cátias são um tipo muito específico de amigas, obedecem a certas regras, a mais importante delas ser conhecerem-se há pelo menos vinte anos, o grupo pode ser maior, e podes não conhecer toda a gente nele mas desde que exista uma amiga que seja tua há mais de vinte anos podes pertencer,
as minha cátias são só duas, mas obedecem à dita regra, calma, como é possível ter amizades de vinte anos?, estou a ficar velha, as minhas são a ana e a mónica, conheci-as no sétimo ano da escola grande, a moni já conhecia de vista da escola pequena, a nina não, estas alcunhas que perduram também há vinte anos, eu sou a martinha, sempre fui, ao contrário do que a minha assinatura neste blog possa indicar, martolas foi mais um produto da minha arrogância adolescente, e como éramos arrogantes!,
eu e a nina, principalmente, pois a moni sempre foi mais sensata, na idade da parvoíce notava-se mais essa diferença, mas não era nem de perto suficiente para deixarmos de ser melhores amigas, eu e a nina mais tolas, sem dúvida, a cantar sam the kid nos bancos de trás do autocarro, ou valet, ou xeg, a moni dividida entre admiração e fingir que não nos conhecia, anos depois desejei ter sido tão sensata como ela era, enfim, aprendemos com a idade,
fomos para uma colónia de férias, ou lá o que foi, e a nina partiu logo a cama ao atirar-se para cima dela, acho que nessa noite também fez a depilação às pernas numa altura em que a depilação era uma coisa muito adulta para mim, lembro-me dum blusão azul clarinho que era a jóia dos olhos da moni, custou um balúrdio, o que seria um balúrdio para nós na altura?, lembro-me das calças à boca de sino, à boca de sinão mesmo, a parte debaixo a ficar molhada com o passar do dia a andar à chuva,
éramos as melhores da turma, a nina craque a matemática, no décimo ano separamo-nos todas e aí foi quando mais senti falta delas, claro que só me apercebi muito tempo depois, andava muito sozinha, fumava ganzas e isolava-me, passava a semana a desprezar a minha turma de vinte rapazes e eu uma de cinco raparigas com as quais tinha zero em comum, pior que isso, passava a semana a desprezar a preocupação das minhas cátias, precisamente por andar sozinha e por fumar ganzas, acho que me senti abandonada na altura, é claro que elas não tinham culpa e eu só estou a refletir agora,
felizmente, passado uns anos, depois do secundário, voltámos a reunir-nos, com um quarto elemento deste grupo, acho até que ela foi a motivadora deste encontro, e percebemos a parvoíce que era estarmos separadas, e era chás e nachos no hemingway, no meio de três faculdades diferentes e outros afazeres do início dos vinte, encontrávamos sempre tempo para nos vermos, e assim foram passando os anos, dez, doze, vinte!
agora, somos formadas, elas têm casa comprada, marido e namorido, uma vida estável, todos os anos vemo-nos quando estou em portugal, e já vários anos vieram visitar-me aqui, este ano talvez o mais especial de todos pois todos os nossos filhinhos nasceram em 2024, sabem como as mulheres que vivem próximas alinham a menstruação?, ora, nós de amigas somos o mais próxima que há, alinhámos os nossos rebentos?, eles que serão invariavelmente os cátios das próxima geração, que maravilha