de voltar a escrever
para já, digam o que disserem, tenho a cabeça cheia de inutilidades - atenção que isto é culpa minha, por exemplo, estou a escrever isto e como música de fundo tenho frações de canções (isto é um bom nome para uma canção) daqueles vídeos virais do tiktok, agora, o mais triste é que eu não tenho tiktok e o que vejo são reposts no instagram, as chamadas reels, das quais sou capaz de consumir durante horas do meu dia, negoceio sempre, vejo só até x hora, e quinze minutos depois aparece a notificação de que já ultrapassei o meu limite de tempo nessa rede social, e eu, ignoro, ignore 15 minutes, ignore for today, ignore forever, eu ignoro e fico horas a ver reel atrás de reel, num misto de vergonha alheia e entretenimento, incomodada com o volume excessivo das vozes computadorizadas que tanto se usam, a experimentar e a nunca postar os filtros que me fazem magra, morena, produzida mas nunca bonita,
numa lista que fiz num caderno que já tenho desde janeiro de 2019, ainda nem cheguei a meio, antes os cadernos duravam-me seis meses, enfim, nessa lista enumerei hábitos que sei que são bons para mim, e lá no topo está: respeitar os limites de tempo que defini para mim própria nas redes sociais e a seguir, em gordo e com vários pontos de exclamação: no reels, escrevi a dia 16 de outubro 2021, não está a correr bem,
outra dificuldade é que muito raramente escrevo em português estes dias, sinto que estou enferrujada, também raramente leio em português, por isso falta vocabulário, as regras gramaticais são um misto de três línguas muito distintas, como se não bastasse, o meu computador tem um teclado alemão, e sim, claro que mudei para o português para escrever isto, mas, por exemplo, para escrever não, há toda uma série de tentativas de encontrar o til por detrás de um umlaut, ou o c cedilha, no início do texto comecei logo à grande com a palavra atenção, foi assim
atencao
aten~cao
atenç\ao
atenção
a terceira dificuldade é precisamente a atenção, distraio-me facilmente, tenho dois rascunhos recentes que nunca cheguei a acabar de escrever, tenho vários textos nos quais perco o gás a meio, dá-me preguiça de continuar, antes escrevia com fervor, com urgência, agora parece que só escrevo o tamanho de uma reel, se isso sequer for traduzível dessa maneira, tu percebes, não perdi a vontade de te tratar por tu, espero que não te importes,
escrevi metade deste texto e já me apetecia desistir, por isso fui arquivar todos os textos que aqui estão há dez anos, pois como todos nós quero apresentar uma imagem muito bem orquestrada de mim, chama-lhe procrastinação, porque é isso mesmo, arquivei, não apaguei, como fiz da última vez que me deu de reinventar, apaguei para todo o sempre, anos de escritos da minha adolescência, do início dos meus vinte anos, preciosos testemunhos da mulher que sou hoje, e arrependo-me, por isso arquivei, não apaguei
a ideia, nunca obrigação, é fazer uma crónica semanal, temas soltos, textos corridos, como era de costume, se não for semanal, tudo bem, mas essa é a ideia, sempre disse que isto são desabafos, que isto é um diário, nunca pensei em ti, mas adoro ler-te, adoro ver-te a ver-me e estimo essa troca de ideias, prometo ter-te mais em consideração, quem sabe
ia escrever, quem sabe até venho a ter um hater, mas achei uma frase de merda,
uma pequena dificuldade é haver um cão a reclamar por eu estar muito tempo à frente de ecrãs, por isso vamos agora brincar
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