quando era bebé diziam-me abençoada, bebia dois biberões - diz-se bibrão mas escreve-se biberão, ontem um romeno ao jantar dizia que para falar português bastava engolir todas as vogais - e dormia das seis da tarde até às seis da manhã, os meus pais puderam ter jantares a horas adultas, pelo menos até vir a minha irmã,
em criança ia dormir às oito, o que em comparação com os meus amigos da escola era cedíssimo, uma vez li uma review no tripadvisor dum café no Algarve de um alemão chocadíssimo que à meia noite ainda havia crianças por ali, indignado que o bem estar das ditas cujas não estivesse a ter tido (ui e esta voltinha?) em consideração, deu-me uma raivinha da pequenez, da ignorância, de não admitir outros costumes diferentes dos nossos, digo isto do alto da minha hipocrisia porque quando é para reclamar dos alemães sou a primeira a dizer, epá isso foi mesmo german, o que por si só é completamente desconexo pois uso outra língua para desdenhar duma terceira, um bocado como os poetas de karaoke do sam the kid,
quando era adolescente dormia doze horas sem problema algum, às vezes treze, e dentro das várias asneiras que fiz enquanto adolescente, como quando os meus pais me apanharam a fumar haxixe e achavam que eu era toxicodependente, ou quando fui apanhada em casa com o meu namorado da altura e fiquei sem chaves de casa durante um mês, não sei se por ser a mais velha fiz as asneiras todas e defini os limites do aceitável perante os meus mais do que compreensivos pais, ou se os meus irmão aprenderam a fazer estas coisas muito melhor escondidos do que eu, agora somos adultos e nada disto interessa, mas dormir doze horas é um feito do qual ainda hoje me orgulho, como era possível dormir tanto tempo,
nos início dos meus vinte, dormia cinco horas, trabalhava outras tantas, ia à faculdade, tinha ensaios mil e concertos e acho que o sono era irrelevante, pois nutria-me à base de realização artística (da qual convenientemente só hoje tenho noção), amor e ignorância arrogante e juvenil, por isso dormir nunca foi assim tão importante,
hoje em dia não há nada que goste mais do que estar na cama, depois de lavar os dentes e tirar as lentes, às nove e meia da noite, mala pronta para o dia de amanhã, cozinha arrumada, a hora a que me levanto no dia seguinte pode ser seis, sete, oito ou até independente de despertador, mas estar na cama a uma hora para mim decente significa ler mais meia hora, seja Ana Karenina, que confesso que vai a 30% desde o verão passado, seja um romance histórico, ou um romance daqueles mesmo maus, nada é melhor do que sentir os olhos a fechar e ver que são dez e dezassete e que há pelo menos sete horas de sono ininterrupto até ao amanhã,
por isso vou arrumar a cozinha, lavar os dentes, tirar as lentes, e dormir, hoje mudou a hora por isso é como se fosse dormir lá pelas nove e meia, bem como eu gosto
2 comentários:
A falta de comentários quase me desencorajou, mas queria dizer-te que gosto do que escreves. Apesar de sentir que não procuras essa aprovação, tenho a dizer-te que toda a tua escrita flui de forma natural, e, naturalmente gosto
Obrigada, anónimo!
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