18 julho 2022

cascais

 cascais é quando apanhas o comboio, lento l e n t o,  no cais do sodré e a paisagem lá fora vai ficando cada vez mais bonita, primeiro o rio, os pastéis e o turismo massificado, restos de um palco de um festival,  depois aquelas terras que achava mais sem sal, mas agora quem me dera conseguir comprar uma casinha ali, entras na urbe, vais por dentro, há prédios feios com marquises fechadas, tão característico de portugal, a partir de são pedro libertas-te do cimento e é só azul, infinito no horizonte, às vezes cinzento, poucas vezes verde, e é ver os turistas, e eu, deslumbrados a olhar lá para fora, e os locais a olhar para dentro, telefone, poucos livros, já sabem como é, este post não é sobre isso, depois disso, casino e uma certa ostentação no estoril, no outro dia disseram-me, nem toda a gente que vive no estoril é rico, ah pois, comprar casa só com paitrocínio, o monte é pequeno e idílico, certamente romantizado na minha visão de ex-monte-estorileana, de certo que não lhe achava tanta piada quando estava no escuro à espera do comboio às seis da manhã, 

depois é cascais

terra da minha infância, de sábados a almoçar fora, gelado no santini e ficar, na minha percepção de pessoa pequena, ficar horas a ler bandas desenhadas empoeiradas na loja de livros em segunda mão, enquanto os meus pais ficavam horas a ler outros livros no andar de cima, antes disso ainda, quando não havia irmãos, ir com a minha mãe almoçar ao frutalmeidas, agora é um café gentrificado, quando a minha mãe me vinha buscar à creche com uma t-shirt da greenpeace, significava que íamos à praia, a descer os montes de são joão e eu com medo dos cães que se atiravam aos portões, quando os meus avós ainda visitavam ficavam na pérgola house, já na altura muito charmosa, hoje é um hotel boutique, mais labels de hoje em dia, ainda antes disso ir ao chinês com vista para o mar e o cozinheiro preparar logo uma 'sopa de massinha' para mim, andava eu entre as mesas, enquanto os meus pais jantavam em paz, a apresentar-me 'olá, sou a marta e tenho dois anos e meio', mostrava dois dedos e meio, caso não percebessem logo, a cozinha do restaurante era preta e eu tinha medo, mas atrás do bar recebia sempre um chocolate negro de sobremesa,

cascais

é sobretudo terra da minha adolescência, horas passadas atrás de um balcão de uma loja onde eu não trabalhava, cheguei de repente nesse grupo de pessoas, simpática e otimista, mas as betas que já lá estavam não gostavam nada de mim, tratavam-me mal, eu pouco me importava mas também não lhes respondia, hoje em dia tenho pena, delas, e de não ter respondido, enfim, tinha uma banda com o david da loja e o rudra e o gonçalo gordo, era a única rapariga e sentia-me super cool, tentei namorar com um betinho que achava um giraço mas não tínhamos nada em comum, ainda tentámos alguns meses, fartava-me de fumar, como era moda na altura, hoje em dia fumar está out, ainda bem, e parece que triatlo está in, ainda bem, era ir ao hemingway na marina beber chá de menta e comer nachos com queijo até às três da manhã, acho que já nem existe esse sítio,

hoje cascais são memórias vivas, as mesmas sensações quando passo pelos mesmos sítios, alguns já não são mesmos, algumas pessoas continuam, o sr. chico das sandes, o carlos a tocar na rua, o david na loja, o senhor francês dos cachorros que ainda se lembra de mim, e é ver as faces iluminadas quando se lembram, ou relembram, e eu, como a lua, reilumino-me também

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