pós
é o que vem depois, e também o que fica mais ou menos perpetuamente, uma impossibilidade, eu sei, nos rodapés e em cima das molduras dos quadros da minha casa, há uns 14 anos andava em tour com a clara andermatt a fazer, pronto, cantar, numa ópera e pintávamos os pés com um pó dourado, um dia acabou o pó e a assistente dela a dizer, ó clara, já não há pó, elas a rirem-se e nós naquela incerteza dos dezanove anos de uma vida relativamente protegida, também é isso pó
parto
uma palavra interessante, pressupõe uma partida, ou uma quebra, e é, uma quebra de tudo o que era dantes, uma quebra irrevocável, paradoxal é querermo-la muito e ficar de luto quando ela vem, de luto pelo que éramos e nunca mais vamos ser, nunca mais vou não ser mãe, e isso é assustador e maravilhoso em medida quase igual, ao processo de criar vida chamamos rotura, da outra vida de certo
depressão
é um buraco, no fundo, a vida vai andando em topografia relativamente homogénea, e depois a grande quebra, como se fosse um terramoto que alterasse a nossa geografia emocional, não só adicionando todo o tipo de buracos inesperados mas também virando o chão em céu e o céu em chão, uma espécie de terramoto tridimensional, a esperança é que os buracos fiquem cada vez mais rasos, de maneira a ser preciso apenas um passinho para sair deles
2 comentários:
já tinha saudades de te ler. acompanho-te há anos. sempre gostei da maneira como escreves. desejo-te mesmo tudo de bom. <3
que bom ler isso! conhecemo-nos pessoalmente?
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